[RP FECHADA] Dangerous play - 10/08/15

TROUBLE, TROUBLE, BÉÉÉÉH

Zara estranha quando a chamam sem querer nada em troca, é algo raro, de fato, e há de se entender o por quê. Suas feições, por mais que doces e delicadas, não apresentam sequer o mínimo de vontade de conversar com quem quer que seja, mas a realidade é que ela apenas não sente-se à vontade para iniciar uma conversa, sendo assim, é vista como antipática. Mas sempre existem exceções, e um garoto com cabelos da cor do trigo, a pele pálida e lábios róseos puxados de maneira larga o faziam ser extremamente atraente, por mais que isto não fizesse diferença alguma, caso as palavras que continha não saíssem de sua boca. No entanto, o rapaz não a encarou por muito mais do que meros segundos, antes de soltar o verdadeiro motivo de encontrá-la. Seu cumprimento gentil fez com que pensasse que ainda houvesse esperança de que todos aprendessem a ser como ele, mas o que se seguia não agradou a seus ouvidos. — Olá... Hm, tem certeza de que sou eu quem ele chamou? — Zara havia acabado de sair de um treino, mas não era o cansaço que a incomodava, ou a vontade de não fazer mais nada. O que a deixava curiosa era a questão do motivo de terem chamado-na, e não alguém mais qualificado, como um filho de Deméter, por exemplo.

O medo de que fossem mais dríades correndo perigo pelas mãos de um autômato fizeram com que os pelos de sua nuca se eriçassem, mas nada que a impedisse de acompanhar o garoto. Sendo cerca de uma ou uma cabeça e meia mais baixa do que ele, não procurou captar a verdadeira intenção que tinha, já que não colocava muita confiança em suas palavras, nem em seus gestos, já que virara-se para trás para ver algo ou então alguém, certo? De todas as maneiras, tinha sua espada em seu dedo, e qualquer problema poderia lutar com o que quer que fosse... Ou gritar e correr.

Distraía-se com a paisagem deprimente do que antes era a bela floresta, ela se lembrava, sim, como era correr pela grama verde que instaurava-se no local, e agora demonstrava-se uma paisagem bem mais tristonha, até ser surpreendida pelo falar do garoto novamente. Deve confessar, que no instante que falara, levou um susto, até mesmo pulando enquanto caminhava e virando sua cabeça rapidamente para vê-lo. Curioso o fato de ele puxar conversa com ela, já que não é muito o tipo que gosta de conversar, mas achou um belo começo para uma desculpa por tirá-la de seu conforto. — Sou Zara. — Impedindo que se desviasse do caminho, voltou a olhar para frente, focando os caminhos da floresta. Sua voz saíra suave, surpreendentemente suave, diferente do que imaginava. Por mais que não esperasse, depois do breve susto, estava mais calma do que anteriormente.

O pior, no entanto, era não saber o que fazer depois de ter se apresentado. Deveria continuar a conversar com ele? Deveria manter-se calada? Apressar o passo? Não são tantas as experiências sociais que já teve em sua vida, presa em parte de sua pré-adolescência e agora sua adolescência no acampamento. Nunca saberia Zara o que é ir à um baile de formatura, como diferentes outros campistas já o fizeram. O Acampamento é bom, mas tira tantas coisas de sua vida, que a entristece muitas vezes quando para para pensar nisto. — Hm, tem certeza de que me chamaram, Lucas? Porque sabe, eu não sou lá grande coisa, e também, eu não sei quase nada sobre a floresta e o que está acontecendo e ninfas e et cetera, mas é claro que você deve saber. Tem certeza de que pediram para você me chamar? Porque talvez eu não seja de grande ajuda... — Por mais que tente demonstrar sempre ares de superioridade, Zara é simplesmente assim: insegura. Precisando sempre de apoio para acreditar que é capaz de algo, e naquele momento, na presença do belo rapaz, ela sente-se capaz de nada.

TROUBLE, TROUBLE, BÉÉÉÉH

— Você só pode estar brincando. — Zara não moveu seu corpo do lugar quando Lucas a puxara para trás, sugerindo que voltassem, pois a dita ninfa talvez já tivesse passado por eles. Com todas as certezas, se ela houvesse passado Zara teria visto-a de alguma maneira. Conhece a floresta por tempo demais para deixar com que seus olhos atentos percam qualquer que seja o detalhe importante que possa esconder-se por trás das antes árvores frondosas. Os braços cruzados e o quadril levemente jogado para o lado direito, assim como a ruga incômoda no meio de suas sobrancelhas indicavam o quão indisposta estava de começar a procurar em todo o caminho que já haviam feito por uma ninfa. — Vamos, fale a verdade agora, estrupício, por que me trouxe aqui? Não há história alguma sobre "Sr. D. precisa de você". Isso é tolice. E não vou mais procurar por ninfa alguma agora. — A irritação em sua voz era palpável, mas não estava para menos. Lucas a levara até o meio da floresta, enquanto agora passava a escurecer, e sem seus pontos de referência, provavelmente não conseguiria voltar para a área de treinos sem certo custo. Imaginar-se caçando a trilha de volta com o garoto a incomodava tremendamente.

— Eu não mereço. Sério, eu não mereço. — Mexendo em seus cabelos bagunçados, Zara procurou pela árvore marcada em seu tronco que indicava a volta para a trilha, mas suas tentativas eram falhas. O que mais a incomodava, no entanto, era ver o louro simplesmente coçando seu queixo, como se pensasse em algo. — E por favor pare de coçar esse queixo antes que faça uma ferida. — Rolando seus olhos nas órbitas, não sabia o que fazer, apenas.

Desapontada e frustada, era assim que se sentia, mas não era para menos, vendo-se tão impotente quanto em qualquer outro momento. Novamente, Zara havia sido falha, já que nem deixar-se não ser enganada pela lábia de um semideus qualquer conseguia. Sentia-se distraída e muito fora de si. Mas também, a garota não é uma máquina que deve pensar em todos os detalhes sempre. Erros acontecem, o difícil é contentar-se com tais.

TROUBLE, TROUBLE, BÉÉÉÉH

O garoto simplesmente não sabia com quem estava brincando. Não que Zara fosse fazer algo com ele, claro que não, tem medo o suficiente de o machucar se tentar algo para simplesmente não tentar, mas logo começaria a falar diversas palavras de baixo calão, e talvez alguns tapas forem o suficiente para acalmá-la, porém, no instante em que ele a chamara de "irritadinha" suas bochechas tomaram a tonalização de uma pimenta, vermelhas como se tivessem queimado sob o Sol. — Olhe aqui, eu não sou irritadinha! E se você se acha assim tão bom, por que precisou de mim para completar sua "aposta"? Se fosse tão bom assim não teria que mostrar sua capacidade de qualquer coisa para ninguém. — Seus olhos se estreitavam para encarar Lucas ao ponto em que se aproximava dele, seu dedo indicador apontado para a face do garoto. Estava brava, claramente, mas calma ao mesmo tempo. Sabia que não havia feito nada de errado, ele por outro lado, sim. — E não me venha com esse sorriso convencido, porque eu não vou te desculpar, não enquanto não sairmos daqui. Não consegue ver que está escurecendo? Daqui a pouco não conseguiremos encontrar o caminho de volta, se é que vamos encontrar o caminho e também, você é muito irritante, é um babaca, na realidade, por ter me trazido até aqui por conta de uma maldita aposta. Olhe... Sem comentários. — Os braços cruzados de Zara no entanto não a impediram de caminhar logo atrás do garoto, enquanto afastavam folhas, pulavam troncos caídos, bem, procuravam o caminho que se mostrava indistinguível.

— Lucas, estou cansada, com sono e não sei se estamos pegando o caminho certo. O que vamos fazer? — Seus olhos azuis demonstravam a sinceridade em suas palavras, evitando falar com o garoto até que realmente estivesse calma, apenas ousou o fazer neste momento, desesperada por respostas. Ainda estavam na floresta, procurando o caminho e por mais que tentasse, encontrar positividade era difícil. Esfregando seus olhos, Zara não sabia o que fazer, e isto quase nunca acontecia, pois dava o seu jeito para conseguir o que queria. — Eu juro que você vai pagar por isto, do meu jeito, mas vai pagar. Que fique bem claro.

TROUBLE, TROUBLE, BÉÉÉÉH

— O que você está fazendo? — Sentir as mãos do garoto erguendo-a do chão fez com que Zara ficasse sem reação. Não sabia se achava algo agradável, já que poderia descansar – mas não poderia fazer isto, já que ele poderia largá-la em um lugar pior de onde estavam –, ou então se achava sua ação ofensiva, como se ela não estivesse apta à andar. De todas as maneiras, seu maior reflexo fora balançar os pés e tentar descer de seus braços, mas Lucas era mais forte do que ela, e tinha uma língua ainda mais afiada. — Deixe de ser grosso, seu bruto, eu não estou gorda! E eu já estive procurando por um caminho, mas não o encontro, ou acha mesmo que eu estava te seguindo sem me precaver? Algumas árvores têm marcações em suas bases, feitas com tinta branca, e se você abaixasse esse nariz ridículo empinado e olhasse mais para baixo do que só esperasse ver o topo dos chalés ficaria bem mais fácil e útil. E além do mais, se eu preciso fazer um regime, por que me pegou sabendo que não é forte o suficiente? — A implicância de Zara continuaria, até que ele se mostrasse merecedor de sua boa atenção, e não apenas de suas reclamações.

Por mais que quisesse reclamar mais sobre sua aparência, por ser fraco, mole e et cetera não haviam muitas falhas que pudesse apontar, ele era bonito, mas tinha um gênio pior do que o dela. Enquanto ele continuava a carregá-la, Zara bateu com as mãos em seu rosto, em sua cabeça, em seus ombros, costas, pernas, em todas as partes de seu corpo possível, mas por mais que tentasse seus dedos eram como grades, impossíveis de se desprenderem ao ponto dela estar livre. — Talvez, se eu estivesse no chão, fosse de maior ajuda. — Continuaria tentando, até não poder mais, ser colocada novamente no chão, por mais que gostasse muito do conforto e da visão. Oh, vamos, os olhos do rapaz são muito bonitos, tão azuis quanto os dela, e são de fato uma visão agradável, tão agradável que Zara precisa manter-se extremamente séria ao encará-lo e propor sua sugestão, prestes a saber que seria recusada.

Desta vez, encontrando-se em uma clareira juntamente do garoto, procurava lembrar-se deste lugar, mas era tudo tão igual que até pensava estar andando em círculos. Não poderia ser possível, é claro, não seriam tão tolos a este ponto, mas se ela foi tola ao ponto de acreditar nele, bem, tudo é capaz. — Lucas, querido, ponha-me no chão, por favor. — Ela realmente tentava de tudo para conseguir o que queria; desta vez em seu pedido, colocou a palma de uma das mãos no contorno da mandíbula do rapaz afetuosamente, como se realmente procurasse ser sensível e delicada com ele, piscou seus olhos diversas vezes de maneira até ridícula e engraçada, como faziam as filhas de Afrodite, deixou seus pés penderem no ar ao invés de o chutar e apenas relaxou em seus braços, talvez, desta maneira, conseguisse se livrar dele.

TROUBLE, TROUBLE, BÉÉÉÉH

Oh, como queria que sua mãe estivesse ali, a seu lado, para lhe ensinar como ser uma "boa garota". Segundo ela, sorrir e ser gentil era a melhor coisa a se fazer, a sinceridade é necessária, assim como a grosseria em alguns momentos, mas a gentileza abre portas, e Zara havia acabado de conhecer como era bom desfrutar das vantagens das mesmas, agora longe dos braços de Lucas. Ajeitando as roupas amassadas, gostava de saber que agora o rapaz estava sendo minimamente agradável com ela, sem mais mentirinhas ou lorotas, ele realmente queria sair daquele lugar. Em algum lugar de seu ser um amargor se formou, pensando em como era uma má companhia, não precisava se estressar tanto, era só a floresta do Acampamento, com monstros ou não, conseguiriam voltar, procurariam por eles, algo aconteceria. E Lucas havia apenas cumprido uma aposta, não sabia de que valia a aposta, mas não deveria ser algo tão absurdo para ela ter a reação que tivera. Quando o garoto a questionara sobre o que poderiam fazer, seu virar para ele fora suave, sem mais movimentos bruscos como antes, e também sem palavras afiadas. Respirando fundo, procurou usar as melhores palavras que poderia encontrar. — Eu não sei para onde podemos ir, sério. — Sua sinceridade poderia ser algo louvável em algum outro momento, mas não agora, aparentemente. — Mas, veja, nós viemos daquela direção, — Seu dedo indicador apontava para a área atrás deles, enquanto planejava um pequeno mapa em sua cabeça. — o Sol se põe ao Oeste — Desta vez, apontou a diagonal dos dois. — o Acampamento fica ao Sul, que é para lá. — Agora, suas indicações montavam coordenadas utilizáveis, não havia explicado aquilo antes pois procurava encontrar as marcações nas árvores, mas não fora possível até o momento. — Então, devemos seguir naquela direção, o que acha?

A incerteza em suas palavras demonstravam que ela não tinha total confiança no que dizia, mas era o máximo em que poderiam se ater. Continuaria procurando pelas marcações, mas estava extremamente claro que já não passavam mais pela trilha que corta a floresta. Esperando uma resposta positiva de Lucas, Zara aguardou até que ele começasse a se mover, não querendo o deixar para trás ou ter mais algum argumento contra ele e, observando suas costas, procurou caminhar em silêncio, mas sua curiosidade a corrompia, como sempre, e a induzia à fazer perguntas inadequadas ao momento. Segurou-se ao máximo, até terem caminhado pelo menos dez metros além da clareira.

— Qual era a proposta completa da aposta? O que você ia ganhar com ela? — A pergunta era besta o suficiente para que se arrependesse depois, mas não conseguia ficar calada, depois de ter brigado e resmungado tanto com o louro a sua frente. Manter-se em silêncio era hipócrita e desconcentrante ao seu ver, queria conversar, de todas as maneiras, já que não aguentava seu silêncio. Antes de tudo, estava mais simpático, mais comunicativo, e ela arrepende-se agora de ter sido tão chata ao ponto de não sentir vontade de conversar com ela. Em seus pensamentos, perguntava-se se produzia este efeito em todos, será?

TROUBLE, TROUBLE, BÉÉÉÉH

O elogio de Lucas não a abalou, caso esperasse algo mais do que suas bochechas levemente coradas, por mais que o sorriso do rapaz fosse realmente cativante, queria, realmente, saber o que ele ganharia com a aposta, e enquanto mantiveram-se andando, resolveu oferecer sua proposta. — Quero metade da recompensa da aposta. — Provavelmente ele acharia que a garota estava ficando louca, mas ao ver dela, nada mais justo do que isto!

Fora parte integral de seu plano todo, e foram além dos limites esperados, perdendo-se entre os galhos frágeis da floresta, ainda agora, quando quase escurecia. Era muito mais palpável que ela recebesse parte da recompensa do rapaz como um pedido de desculpas do que qualquer outra coisa, e não deixaria suas ideias de lado. Queria a recompensa, e assim teria. Não esperou que Lucas lhe desse resposta alguma, e assumiu então a dianteira do caminho que traçavam.

A Lua ameaçava aparecer nos céus, e isto a assustava levemente, os braços cruzados em frente ao peito eram um sinal de proteção, temerosa do que quer que pudesse sair das árvores, mas determinada a sair do local sã e salva antes que qualquer outra coisa a acontecesse. Estavam próximos, podia ouvir, ao longe, gritos alto o suficiente para que se animasse e seus olhos brilhassem sob a luz das estrelas. Era possível que quase abrisse um pequeno sorriso, na ideia de se livrar do garoto.

TROUBLE, TROUBLE, BÉÉÉÉH

Antes que desse conta, Zara estava de volta à área "segura" do Acampamento. Um longo suspiro demonstrava seu alívio frente a tudo aquilo, as pessoas, a bagunça. Era reconfortante. Lucas voltava-se para falar com ela, e seus olhos agora mais relaxados analisavam como ele daria conta do grande problema que tinha agora: a divisão de sua recompensa. Por mais que dissesse que não ganharia nada com isto, bem, ela não acreditava. É claro, tem suas convicções e crê saber notar quando alguém está mentindo, digamos que, para Zara, Lucas estava o fazendo naquele exato momento. O divertido, fora ver suas palavras serem interrompidas por um garoto imensamente mais alto do que ela, e até mesmo mais alto do que ele!, seu grande sorriso poderia ser divertido, mas os olhos fuzilantes na garota não eram nada amigáveis, fazendo com que a mesma os rebatesse à altura. Os braços cruzados agora em frente ao peito, e uma das pernas mais relaxada do que a outra. As palavras do garoto foram rápidas, mas suficientes para se entender de quem era. Orton.

— Então você é o querido Orton! — Seus braços agora abriram-se como se quisessem abraçá-lo, mas era claro que não era este seu objetivo. Olhando sobre seu ombro esquerdo para Lucas e lançando-lhe um grande sorriso, o garoto deveria saber seu primeiro instinto, pedir a recompensa da aposta. — Quanto você deve a nós agora, Orton? Porque sabe, uma aposta deve ter uma recompensa, e como fui parte integral dela, quero agora... — As pontas de seus dedos soltavam pequeninas fagulhas, imperceptíveis, mas perigosas o suficiente para machucar o garoto caso tentasse qualquer coisa contra os dois. Mais contra ela do que contra Lucas, Lucas poderia se virar.

Orton, enfim, enfiou sua mão dentro do bolso traseiro de sua calça, e de lá retirou alguns dracmas, tão poucos que fizeram com que Zara revirasse seus olhos na direção dos filhos de Dionísio, perguntando-se se era isto mesmo o que valia ter ido até a floresta com o estrupício que era Lucas. De todas as maneiras, era melhor do que esperava, talvez Lucas tivesse procurado ficar com toda a recompensa para ele, mas afinal o feitiço se virou contra o feiticeiro.

Orton continuava a observá-la, prestando mais atenção em seu corpo do que em sua carranca que insistia em permanecer em seu rosto, e tomando nota disto, a garota aproximou-se de lucas, segurando em seu braço na altura dos bícepes e lançando um grande sorriso ao louro. — Bem, você é ótimo, Lucas, deveríamos nos encontrar novamente na floresta... Foi extremamente agradável. — Com suas palavras ditas, não recuou ao girar em seus calcanhares e tomar o caminho para seu chalé, notando agora, como Lucas a aguentara por tanto tempo? Por mais que reclamasse e brigasse com ele, o que mais deveria ter incomodado-o era seu odor. Estava nojenta.