Hey dear , run away!

01Lost in the lake?

Não sabia ao certo o porque estava ali, para ser sincero a água nunca chamara minha atenção. Provavelmente isso se explicava bem pelo fato de eu ser filho de Hades, e os três grandes irmãos nunca foram realmente melhores amigos. Estava sentado a beira do lago, abrigado pela sombra de uma das árvores que me trazia certo conforto, tanto se tratando de calor, quanto da luminosidade que me irritava muito mais. A camisa do acampamento tinha ficado em meu chalé naquele dia, primeiro aquele laranja não caia bem em mim, segundo só o utilizava para treinos mesmo. Portanto me utilizava de uma camiseta em um tom de cinza escura, quase preto. Por cima um casaco aberto, com capuz, o qual cobria minha face. Uma de minhas mãos estava tocando o solo, como se a terra um tanto fria aquietasse meus pensamentos. Ultimamente os sonhos tinham piorado, ainda não faziam qualquer sentido, borrões de coisas que pareciam muito antigas.

Tinha de admitir que aquilo me assustava um pouco, talvez por isso buscava agora conforto em um lugar distante. Passava a maior parte de meu tempo livre na arena, ou em meu chalé, tinha adquirido o hábito de sair para passeios somente no período noturno, aonde me sentia mais a vontade e o volume de campistas era menor. Um barulho alto de folhas  secas sendo pisadas chegou até meus ouvidos, me deixando extremamente alerta a tudo a meu redor. Ultimamente o acampamento não vinha sendo o local mais seguro da terra, portanto eu sempre portava minhas armas, assim como os demais. Minha mão foi automaticamente ao bolso segurando a espada dada por meu pai. Uma garota passou correndo por mim, indo em direção ao lago e sentando-se em uma das rochas. Ela nem pareceu me notar, o que podia ser devido ao fato de eu me encontrar mais nas sombras, ou talvez por sua reclamação verbal. Não sabia se devia me mostrar, mas em todo caso me parecia injusto que ela continuasse falando sozinha, sem saber que alguém a ouvia. Bom, o fato de falar sozinha não iria mudar muito.

Me ergui começando a andar na direção do lago, não fazia esforço para não fazer barulho, pelo contrário, queria ser notado, mesmo que fosse para ela me mandar embora. Acabei por pisar em um galho de árvore, que ao toque de meu pé se rompeu causando um barulho um tanto alto. Não fora de fato intencional, mas fora por falta de atenção e preocupação.

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02 LOST IN THE LAKE?

Não demorou para a menina me notar, mas demorou até ela resolver falar algo. Provavelmente uma discussão interna sobre me ignorar por completo, ir embora, ou me cumprimentar. Vamos combinar aquela indecisão das pessoas a meu redor não era novidade a mim, como filho de Hades ninguém me gostava de ter muito por perto. Quem gosta da morte? Ainda mais que eu nem fazia esforço para fazer amigos, ou sequer falava. Mesmo após sua comunicação ainda senti sua incerteza, sua indecisão. Dava para notar em sua voz, em seu tom de indagação. Me arrastei aproximar dois passos a mais, com ambas as mãos segurei meu capuz retirando ele da cabeça e revelando minha face. Meus olhos azuis demoraram a se acostumar com a luminosidade, estávamos em uma clareira, o que era óbvio uma vez que grandes árvores não cresceriam no meio do lago para nos proporcionar sombra. Agora um pouco mais próximo os pelos de meu braço se arrepiaram, sentindo a presença de um frio inesperado.

Encarei a menina com um pouco mais de atenção, provavelmente aquilo incomodava algumas pessoas, eu ao inverso preferia o frio ao calor. Todos os corpos mortos exalam frio, não calor, essa deveria ser a causa por tal gosto. Por isso, na minha opinião, era uma sensação agradável. Com certeza muito melhor do que a que as pessoas tinham ao redor de mim. Arrumei meu cabelo com uma das mãos, me arriscando em uma maior aproximação, por algum motivo agora ela me deixava intrigado. De quem seria filha? Não tinha a intenção de seguir até a pedra, pelo contrário, gostaria que a menina continuasse a ter seu espaço, ainda mais duvidando de sua vontade de permanecer ali. Ergui uma sobrancelha e cruzei meus braços, como em uma pergunta silenciosa sobre o que faz aqui. Ela não me parecia muito contente com a vida no acampamento, algo expresso antes de saber que eu me encontrava ouvindo.

Talvez eu pudesse ajudar? Achava meio difícil, uma vez que eu nem ao menos conhecia outra vida. O que todas as pessoas tinham do lado de fora que as fazia tanto ir embora? Acho que eu nunca viria a descobrir. Minha mente era cheia de lacunas e coisas sem nexo. Inspirei profundamente o ar da floresta, ele me parecia muito “leve”, buscar locais fechados naquele acampamento era uma tarefa difícil e eu não aguentava mais meu chalé. Imaginava como uma pessoa que parecia ter uma tendência ao frio aguentava aquele verão eterno. Sorte dos filhos de Poseidon que tinham os lagos, sorte dos filhos de Deméter que tinham toda a floresta, azar de nós que éramos deslocados.

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03 Lost in the lake?

Tanto quanto eu não tinha me afastado por sua aura fria, ela não parecia realmente incomodada com minha aura sombria. Não era uma escolha minha ter aquilo, fazia parte de mim, e as vezes eu achava mais fácil as pessoas se afastarem por vontade própria. Eu não tinha jeito para lidar com elas mesmo, preferia estar na arena travando combates, ou vagando pela noite como uma alma penada. Por isso mesmo nunca tive a intenção de incomodar ninguém, naquele momento em que me aproximei só o fiz por não achar justo alguém desabafar sem saber que um desconhecido a escutava. De qualquer modo a árvore não tinha uma sombra negra o suficiente para encobrir minha presença, hora ou outra ela me notaria, e eu preferia ser antes para não haver a vontade de arrancar minha cabeça. Seu olhar sobre mim não chegava a me incomodar, afinal eu também não escondia meu interesse em tentar entende-la. Suas perguntas vieram uma atrás da outra, depois de mais aquele momento de silêncio e avaliação me parecia estranho.

Tentei captar a maior parte, as processando cuidadosamente em minha mente, mas sem quaisquer resposta plausível. Provavelmente o correto seria me retirar, apenas dando um tchau. Sorri olhando para baixo, desfazendo meus braços, os deixando cair ao lado do corpo. Não tinha nenhuma intenção de me fazer por bad boy, deixava esse rótulo para filhos de Ares, que pareciam o apreciar. Também não sabia se a queria falando algo, só tentava ser educado e entender o que se passava na mente da menina. Saber o porque de sua desilusão com o lugar. Eu provavelmente nem útil seria, mas geralmente pessoas me intrigavam com suas preocupações pouco plausíveis. O problemático deveria ser eu, uma vez que meu pai cuida de pessoas mortas, por favor. Ninguém merece fantasmas aparecendo a toda hora querendo favores, não é fácil não. Sentia que suas perguntas demonstravam uma instabilidade, o que talvez indicassem que ela estava incomodada.

Minha intenção não era assusta-la, apesar de que minha aura dissesse outra coisa. Tentei a fazer diminuir, respirando fundo. Estava aprendendo a controla-la, para não me taxarem como filho de Hades a mil metros de distância, ou sentirem minha presença. Permaneci parado no mesmo lugar, se fosse a intenção da menina ela poderia se aproximar. Resolvi demonstrar isso sentando-me sobre a terra, minhas pernas estendidas e ambas as mãos apoiadas para trás das costas. Meu rosto ainda na direção dela.

notes: post em tal lugar, com fulano. where: new york. when: dia 19 às 14h.

04 Lost in the lake?

A vi levantar-se, após o breve momento em que era possível reparar que ela pensava a respeito do convite. Para dizer a verdade eu ainda não sabia se ela tinha feito aquilo para ir embora, ou vir mais para perto de mim. Porém creio que se fosse sair dali seria praticamente correndo, e seus movimentos eram calmos, de ritmo normal. Enquanto ela se aproximava o frio também parecia aumentar, como uma aura gélida, contudo parecia mais controlada do que antes, talvez o que provasse que ela sentia-se mais segura. O que me deixava contente, só tinha a intenção de assustar meus inimigos e ela não parecia se encaixar naquela descrição. A garota dos cabelos negros sentou-se por fim a meu lado. Movi minha cabeça em sua direção com um sorriso torto nos lábios, demonstrando que tinha ficado contente com sua decisão. Mais uma vez eu ri olhando para baixo, em seguida fiz uma negativa com a cabeça. Bom, na maioria das vezes as pessoas percebiam isso, é bem fácil.

Mas nem eu mesmo sabia o porque de não expressar nenhuma palavra, não era uma deficiência, só me parecia normal ser assim. Como se eu tivesse ficado muito tempo sem utilizar minhas cordas vocais. Agora ela se apresenta, Valenttina, era um belo nome para uma bela moça. Ela não perguntou meu nome, mas achei que seria respeitoso lhe prover o meu em retorno. Segurei a corrente ao redor de meu pescoço, mais especificamente a parte da placa militar aonde meu nome estava cravado. Com uma mão de cada lado retire ela, segurando para a garota a parte de meu nome, de um jeito que ela pudesse ler. Enquanto eu a devolvia para meu pescoço ouvi o que ela tinha a dizer, parecia mais um desabafo, não sabia de fato o porque eu tinha sido merecedor dele. Mas era interessante reparar que ela parecia confiar em mim, de certo modo. Não conseguia decifrar do porque pessoas fugirem dela, uma vez que ela não me parecia nada ameaçadora, ou me levava a ter medo.

Pelo contrário. Provavelmente seria simplesmente por sua aura, quanto a isso eu poderia entender. As pessoas aqui nesse lugar tentavam-se a nos julgar por elas, ou por quem éramos filhos, ninguém se importava muito em te conhecer. Dei um sorriso em sua direção, tentando a fazer com que ela se sentisse bem vinda. Conhecia aquela sensação de abandono pelo mundo, uma vez que eu parecia ter somente sido jogado aqui. Todos gostavam de falar de uma vida pré acampamento e eu nem sabia o que isso significava. Voltei a palma de minha mão direita para cima, a oferendo a menina como forma de apoio.

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05Lost in the lake?

Ergui uma sobrancelha quando ela leu meu nome em voz alta, com um certo tom interrogativo. Concordei com a cabeça confirmando algo que eu nem bem sabia se era verdade, estava escrito na placa, então deveria ser. Ao menos fora desse jeito Quiron se referiu a mim no primeiro dia que cheguei, mas a corrente poderia ser de outra pessoa, eu não sabia direito. Mesmo que fosse esse caso, já tinha me apropriado do nome, e ela o elogiara, o que significava que era um dos bons. Sua mão tocou na minha, aceitando o convite, seu toque era tão frio quanto sua aura. Mas não era algo ruim, ao menos para mim. Fechei minha mão contra a dela, nem sabia ao certo porque fazia aquilo, mas em todo caso eu nunca soube como lidar com as pessoas. Espera, nunca? Não sabia que momento ele começava, mas se fosse no acampamento era verdadeira a alternativa. Dei de ombros, concordando com a cabeça. É eu sabia que eu era esquisito, dava para perceber só pelos olhares curiosos.

Mas eu me sentia muito mais perdido do que esquisito, como se eu fosse somente uma peça de todo o quebra cabeça. Sendo que as demais peças estavam perdidas dentro de minha mente, nos locais mais profundos e eu diria até mesmo destruídas. Acompanhei seu riso, tentando descontrair a situação. Talvez aquele fosse um bom momento para fechar os olhos e apenas ouvir os sons a nosso redor. Mas se existia uma coisa da qual eu tinha medo era de fechar os olhos, não por ser escuro, mas porque eu parecia mergulhar em minha mente. Esqueci a ideia mexendo de leve minha cabeça para ambos os lados, como se a mandasse para longe. Queria saber mais sobre ela, eu sempre tive curiosidade sobre as outras pessoas, querendo ouvir histórias que eu nunca entenderia porque simplesmente parecia nunca ter vivido uma vida normal. Além disso eu sabia o que era ser confuso dentro de si mesmo e não desejava isso a ninguém.

Algo dentro de mim parecia querer provar que eu não era mau, talvez fosse por isso que meu dedão acariciava as costas de sua mão de um jeito distraído. Meus olhos azuis focaram o lago, como se eu não tivesse direito a mais nenhuma interrogação. Ela também não tinha a obrigação de se abrir com um estranho, de qualquer forma eu ainda podia oferecer um certo conforto. Muitos buscavam conforto na morte, afinal de contas. Parecia algo meio sombrio, e era, mas não deixava de ser verdade. Como eu era seu filho, talvez eu pudesse oferecer esse conforto, mas não matando alguém, logicamente.

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06Lost in the lake?

Senti sua mão se desprender da minha, olhei somente de canto para o loca. Não era um ato hostil, tão pouco um que de fato me afastasse ou demonstrasse o anseio dela de sair dali. Minha intenção não era me mover, mesmo antes de ela indicar para eu permanecer no local, agora o silencio era reciproco. Meus olhos azuis a acompanharam até a água, o que ela viria a fazer? Não tinha entendido ainda seu propósito, iria entrar no lago? Resolvera agora dar ma nadada? Um frio subiu por minha espinha, mas não tinha nada a ver com a menina. Era como se uma memória se reacendesse em minha memória, mais uma sensação, enjoo, tempestades, ondas. Um navio… Mexi a cabeça tentando esquecer tudo aquilo e focar no presente, que me chamava jogando o líquido sobre mim. Agora quem soube se expressar bem sem palavras fora ela, me chamando para brincar? Estreitei meus olhos, não sabendo exatamente como reagir. Minha roupa tinha pingos de água.

Apoiei ambas as minhas mãos no solo, me coloquei de pé com cuidado, ainda a observando. Dei um sorriso de canto enquanto me aproximava do lago, mais a sua direita. Deveria adivinhar como se jogava aquele jogo, mas supunha não ser muito difícil, talvez só atingir o outro, o molhando o máximo possível. Era uma alternativa, um filho de Poseidon com certeza se dava bem naquilo. Será que ela era filha do deus do mar? Ainda não tinha nenhuma pista sobre seu progenitor. Minha canela adentrou a água fria, não me importei com o quanto meu tênis ficava encharcado. Em seguida a imitei, chutando a água e a jogando sobre a garota. Pisquei com meu olho direito enquanto a via ser atingida. Já esperava uma reação a altura. Era estranho, mas parecia algo que me fazia bem, como se me deixasse leve. Algo sem quaisquer objetivo, coisa que a tempo eu não tinha ali dentro, sempre focado em treinos e vagar sem nada para fazer.

Agora eu experimentava uma sensação nova e me era agradável, como se a muito tempo atrás eu fora privado de tudo aquilo.

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07 Lost in the lake?

Tinha conseguido a acertar em cheio, jogando água por sua roupa, parecia que eu estava pegando o jeito da coisa, ao menos eu sempre fora de aprender rápido. Mesmo assim ainda não sabia ao certo como agir, e se algo que eu fizesse acabasse por a desrespeitar? Claro que não seria minha intenção. Meus olhos foram a acompanhando, enquanto seus passos vinham em minha direção, ainda sem proferir nenhuma palavra, total silencio. E por mais que seu olhar me passasse uma certa confiança todo meu corpo estava alerto, ela vinha devagar, demonstrando que não poderia de fato fazer algo ameaçador. Aquilo fazia parte da brincadeira? Era difícil jogar quando não se sabia regras, se é que haveriam regras quando duas pessoas se jogavam água, na realidade isso me parecia extremamente infantil. Se eu soubesse de fato classificar essa palavra, lógico. Meus olhos seguiram sua mão em meu pulso, meu primeiro impulso era o tirar dali, a afastar.

Contato humano não era bem meu forte, sempre que Hunter tentava acabava indo ao chão com algum tipo de machucado. Mas ela me parecia muito inocente para qualquer ato do gênero, por isso meu corpo inconscientemente a seguiu, entrando mais na água fria. Ela parou bruscamente, eu não acompanhei porque nem sabia o que esperar, a menina me empurrou fazendo meu corpo afundar na água como uma ancora. O primeiro encontro foi quase assustador, o ar escapou de meus pulmões e as memórias pareceram tentar reaparecer. Retomei as rédeas de minhas emoções o mais rápido que pude levando completamente encharcado. Ao menos tinha deixado meu casaco na margem, acabei por desistir da camisa também, uma vez que ela só me pesava. A retirei, fazendo um bolo de si própria e a jogando contra a margem. Levei minha mão a meu rosto tentando tirar a água ali, em seguida perpassando por meu cabelo.

Encarei a garota com uma careta, como se realmente a repreendesse pela ação, algo que eu curiosamente não fazia. Tinha uma vontade de me vingar, mas não era algo rui, apenas como lhe pregar uma peça. Bom, eu era muito mais forte. Avancei em sua direção com um sorriso malicioso nos lábios, a peguei pelas pernas, em seguida no colo e a soltei, deixando-a afundar no lago igual fizera comigo. Acho que eu me sentia um tanto culpado pelo meu ato, pois em seguida tentei recuperar a garota a trazendo para a superfície novamente.

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08 Lost in the lake?

Eu estava de parabéns, alguém deveria me proibir de participar de tais brincadeiras, provavelmente por isso eu tinha pulado o caça a bandeira. Quase havia a afogado, acho melhor agora eu arranjar um modo de me desculpar. A puxar para a superfície já foi algo bem útil, segurei sua mão e assim que a senti retribuir eu a puxei para cima. Minha face era de plena preocupação, enquanto a menina tossia mais parecendo que viria a morrer. Enquanto isso minha mente me recriminava de todos os modos possíveis, viu? Por isso eu não gostava de água. Mas em seguida ela fez algo que eu não esperava, bom eu esperava ser repreendido mas de um jeito sério. Eu tinha plena certeza que “bobão” não era um adjetivo sério. De tantas coisas que ela já havia me surpreendido aquela entraria na lista, sua mão em punho veio em direção a meu peitoral desnudo. Socando o local, mas sem quaisquer força real, estreitei meus olhos observando seus atos.

Para alguém que tinha a aura gelada era até bem esquentadinha. Ao menos eu imaginava que isso fosse um modo de me perdoar, pelo meu ato totalmente classificado como infantil. Achei que por minha causa a “guerra" tinha tido um fim, mas eu estava enganado, mais água voo pela minha cara. Certamente ela não era alguém que aceitava perder assim facilmente. Daquela vez a água veio exatamente direcionada a minha face, me obrigando a tentar limpa-la com a mão. Balancei minha cabeça fazendo os pingos de meu cabelo voarem para todos os lados, como um cachorro tentando ficar seco. O que para mim era impossível, uma vez que eu estava até o joelho dentro do lago. Fora todo meu corpo estar molhado pelo golpe baixo que recebi na primeira vez. Usei minhas mãos para criar pequenas ondas, lançando-as contra ela. Começava a desconfiar que aquilo acabaria em um empate, mais molhados do que já estávamos seria impossível.

Seus cabelos negros estavam rentes ao corpo, o que me fez rir de sua cara. Apesar que provavelmente meus cabelos não estavam assim arrumados. Sentia meu corpo gelado, mas não me era uma sensação desagradável, poderia dizer que preferia aquilo do que os raios de sol que entravam e tentavam me aquecer, tanto quanto me secar. A parte do secar eu aceitava. Mas havia um mistério ali, a própria garota, como tinhamos ficado tão próximos tão rapidamente? Isso não combinava em nada comigo, era deveras estranho. Ela própria falara que pessoas não se aproximavam muito de si, talvez nos sentíssemos assim porque percebemos que nenhum de nós representava perigo. Tinhamos essa referência sobre nós mesmo, e não tirávamos assim rápido conclusão de outros.

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09 Lost in the lake?

Meu ataque fora super efetivo, mas como eu havia dito anteriormente não havia mais muito o que molhar. Estava pronto para me defender de um outro banho, mas ele não veio. De qualquer modo como se protege da água? Sempre haverá um respingo, basta aceita-los. Contrariando, novamente, minhas expectativas ela derramou um bocado de água sobre sua cabeça, parecia extremamente confortável ali dentro. Eu por outro lado ainda não me sentia tanto assim, ao menos meu corpo já tinha se acostumado a temperatura mais baixa, mesmo assim a água ao meu redor me deixava um tanto nervoso. Ela por sua vez se “deitou" sobre a superfície do liquido, ficando boiando próxima a mim. Não me arriscaria a fazer o mesmo, uma vez que eu certamente afundaria igual Valenttina o fez quando eu a joguei. Ouvi seu comentário, o qual eu não podia ter certeza se era para mim, primeiro porque a garota não me encarava e sim ao céu, segundo eu não entendia porque era merecedor de tal.

O que eu havia feito? Por outro lado também tinha o desejo de a agradecer, por me fazer sentir normal. Uma coisa que eu não conseguia sentir no meio de um acampamento repleto de semi-deuses. Caminhei em sua direção ainda incerto do que fazer, sabia que a brincadeira tinha se cessado, estava até um tanto cansado com o esforço. Meus tênis e minha calça faziam de minha movimentação muito mais difícil que o normal, quando estava a seu lado me sentei. Havia um pequeno elevado de areia por ali, então quando o fiz a água ficou próxima ao final de minha barriga. Apoiei as mãos para trás, do mesmo modo que eu me encontrava anteriormente, no solo, minhas pernas esticadas. Encarei o céu também, como ela fazia, estreitando os olhos pela claridade. Tentava entender do porque de ele chamar tanta a atenção, talvez seja apenas birra de um filho do submundo, mas eu não via nada de mais em um grande azul, quebrado algumas vezes por pontos brancos - nuvens -.

A noite era mais atraente, somente naquele período eu admirava o que se encontrava acima de minha cabeça. Olhei de canto a garota estudando seu rosto, era mais interessante que o céu. Mas seus olhos continuavam buscando o que ela não podia tocar. Ergui uma sobrancelha, a continuando a encara-la, em seguida olhando o céu e por último voltando a ela. Em uma pergunta silenciosa, me perguntava o que ela via ali, porque para tanta atenção era algo que claramente eu não via.

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10 Lost in the lake?

Meu problema não era com o fitar o nada, pelo contrário estava fazendo o mesmo antes de a menina aparecer correndo pelo local. Era só o céu e a água que me incomodavam, de certo eu era filho de Hades até de mais. Ela deve ter notado meu incomodo, o qual eu tentara esconder para não acabar estragando seu momento de contemplação. Bom, não era difícil para mim não atrapalhar alguém, uma vez que geralmente quem muito fala que atrapalha. Valenttina mudou de posição se colocando de pé, observei seus movimentos enquanto me ajeitava para fazer o mesmo. Não tinha para onde ir, mas também não ficaria ali sozinho caso sua decisão fosse ir embora. Encarei o céu por um momento após sua afirmação, de fato a noite se aproximava e uma sensação de alivio recaiu sobre mim. Enquanto todos, inclusive ela, nesse momento declaravam que era tarde e começavam a se recolher, seja para seus chalés ou para o jantar, era esse o horário que eu geralmente saia.

Concordei com a cabeça, apenas torcendo para ela não pensar que estava concordando com a primeira afirmação. Seu toque em meu ombro foi o “alerta" para eu me colocar completamente de pé. Com o contraste da água pude perceber que de fato a menina era “fria”, no sentido literal da palavra, não em suas ações ou falas. Verifiquei o estado de minhas roupas e das dela, com certeza aquilo despertaria olhares. Mais uma vez concordei, sim, eu iria com ela, seja lá para onde, provavelmente ao jantar. Fui até a beira do lago aonde tratei de recolocar minha camisa, felizmente o dia quente tratara de a secar durante o tempo que eu estava na água. Mas o trabalho foi inutilizado quando ela se prendeu a meu corpo ainda molhado, recolhi também o casaco e a acompanhei para longe dai.

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